"Faço-lhe notar que um ser humano que não sonha é como um corpo que não transpira: armazena uma porção de toxinas"
Truman Capote

1.18.2009

desDEVOLUÇÃO


Os políticos queixam-se imenso dos cidadãos. Afirmam-se incompreendidos, vilipendiados, ofendidos na sua honra, agredidos na sua legitimidade.
Verdade seja dita que pouco ou nada fazem para que a situação se inverta. Fazer mais e melhor, para consolidar a imagem que o cidadão comum tem dos políticos e da sua honorabilidade, não é possível. Veja-se o deprimente espectáculo que a Assembleia da República frequentemente oferece…

Mas… isso é politica num patamar mais elevado do que aquele que aqui me traz.
Se eventualmente me pode interessar a política como ciência ou ao nível da intervenção cívica, esta quando respeita ao universo político-partidário pouco me interessa em termos efectivos a não ser pelo anedotário de que constitui fonte inesgotável.

Uma das vertentes que me interessa é a política cultural deste governo. Para atestar o ponto em que esta se encontra uma afirmação e uma pergunta são suficientes; Afirmação: Temos um Ministério da Cultura; Pergunta: Alguém viu ou sabe onde anda o ministro?

Não esmoreceram ainda os ecos da cerimónia oficial (12 de Dezembro) da “devolução” do Cais das Colunas à cidade e já se prepara a sua DESdevolução. Os motivos evocados para o novo subtraimento do Cais das Colunas são nobres sem dúvida. Melhorar a qualidade das águas do Tejo. Mas para quê este teatro de dar para depois tirar? E já agora, onde anda o Zé? Aquele, sim aquele que fazia falta?
Não tem nada a dizer, aquele precisamente que nunca se calava, nem ninguém fazia calar?
Quer isto dizer que a pomposa cerimónia foi apenas uma farsa – daquelas – em que a classe política é useira. Apenas pretexto para mais uma “inauguração”, eventualmente para mais um almoço ou beberete a que as numerosas comitivas se dedicam com denodo e valentia.
Ainda bem que o Zé existe para comprovar aquilo que se sabe acerca do poder e dos seus efeitos…
E que andam afinal estes políticos a fazer? O que de melhor os governantes (todos eles) têm sabido fazer: Dar com uma mão e tirar com as duas!

Obs.:
Vozes amigas e ponderadas, a propósito do escrito anterior sobre Lisboa e o ditoso Cais, “acusaram-me” de exagerado pessimismo… Como eu gostava que tivessem razão.