Aqui fica mais uma estória edificante que atesta na perfeição a qualidade dos políticos e das instituições que estes tutelam. Aqui ficam alguns acontecimentos e as perguntas que os mesmos suscitam ao comum cidadão perplexo…
A estória começa assim:
Era uma vez uma moradia no Restelo, projectada nos anos 50 do século passado pelo arquitecto António Varela. A dita moradia tem, como particularidade mais marcante, um conjunto de painéis de azulejo – no exterior e no interior – da autoria de Almada Negreiros. Os referidos painéis encontram-se referenciados e estão classificados no inventário municipal do património com a designação de património integrado o que implica que todo o edifício que os acolhe esteja abrangido e que os painéis não possam ser dele retirados. Mas tem mais… Estes painéis de azulejo da autoria de Almada, constam de um levantamento da arquitectura portuguesa do século XX realizado sob os auspícios da Ordem dos Arquitectos e fazem parte da lista do Docomomo (organização que subsidia a documentação e conservação de manifestações do movimento moderno em arquitectura). Segundo os entendidos, estes painéis são especiais na medida em que foram concebidos numa altura muito especial do percurso artístico do autor, uma fase de grande actividade criativa, antecedendo cronologicamente o enorme painel existente no átrio da Gulbenkian.
Acontece que:
Apesar da moradia se encontrar numa zona especial de protecção de vários imóveis classificados e de ela própria estar “protegida” por legislação específica em virtude de conter os tais painéis, os actuais proprietários avançaram o mês passado com um pedido de demolição que a CML aceitou apreciar sem questionar… No entanto e sem dar sequer tempo de resposta e perante a indiferença e o imobilismo das várias tutelas, a mando dos proprietários, um dos painéis já foi completamente removido e não se encontra no sequer no local, nem se sabe onde estará! Não fora a imediata e ruidosa denúncia do Movimento Cidadãos por Lisboa (honra lhes seja feita) e teria acontecido a remoção total. Confrontado com esta situação e a denúncia formal a CML decidiu (finalmente) tomar medidas e enviar a Polícia Municipal para evitar maiores danos.
Tudo isto para dizer que:
Perante as trapalhadas habituais e as trocas de acusações naturais, tudo vai ficar na mesma e ninguém vai ser responsabilizado. Quem autorizou, permitiu, ignorou ou esqueceu o quê, é algo que nunca se vai apurar. Os suspeitos do costume (leia-se Ministério da Cultura, Igespar, vereação da cultura da CML, o Zé e tudo à volta) não só não tomaram posição firme nem atitude sólida como vão esconder-se uns atrás dos outros e todos ficarão impunes.
Moral da estória e consequentes perguntas:
Este governo tem um Ministério da Cultura? Este Ministério da Cultura tem ministro? O Igespar existe? O Igespar tem director? O Igespar funciona? A CML ainda tem vereadora da cultura? O presidente da autarquia além de pintar passadeiras (actividade legítima) sabe o que anda a fazer? Não, não vou falar do Zé, o tal que já fez falta… Mas esta gente toda serve para quê?
E as inevitáveis respostas:
Cultura, Preservação, Civilização, Património, Conservação… uma chatice.
PIM!