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"Novo Dicionário da Língua Portuguesa"
Francisco Torrinha, Editorial Domingos Barreira, Porto - 1950
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Diversos nomes grandes da literatura e das artes plásticas, clássicos ou contemporâneos, manifestaram-se incondicionais adeptos das caminhadas na sua componente estética, criativa, reflexiva ou interventiva. Robert Walsser no seu livro “O passeio e outras histórias” não se exime de declarar em letra de forma as virtudes do passeio a pé: “Num passeio longo e profuso ocorrem-me milhares de ideias úteis e utilizáveis. (…) Um passeio estimula-me profissionalmente, mas ao mesmo tempo dá-me pessoalmente descontracção e alegria; repousa-me, dá-me conforto e bem-estar, constitui um prazer e tem simultaneamente a propriedade de me espicaçar e estimular a não parar de criar, na medida em que me oferece para assunto fenómenos de valor variável, que mais tarde, em casa, elaboro com zelo e cuidado. Qualquer passeio está sempre cheio de fenómenos significativos, que vale a pena ver e sentir. Imagens, poemas vivos, encantamentos e belezas naturais, tudo isto fervilha literalmente num belo passeio, por mais pequeno que seja”.Caminhar sempre, caminhar muito, é um óptimo pretexto para se conhecer o território ou o espírito do lugar, seja ele campo ou cidade. Qualquer pretexto é um bom pretexto, derive ele da uma pré-definida “rota dos monumentos” ou da leitura de um livro que contenha referências a um dado lugar ou uma paisagem específica (estou a lembrar-me de Saramago – o escritor - em dois casos precisos: “A história do cerco de Lisboa” e “O ano da morte de Ricardo Reis”). A comparação entre o lido e o observado, amplifica e diversifica as nossas percepções. É, asseguro, uma experiência interessantíssima que já me concedi o privilégio de experienciar.
Mas não tem necessárimanente que ser uma caminhada dirigida ou orientada. Pode ser apenas uma deriva casual, improvisada, não direccionada ou simplesmente inventada...
“Não conhecer bem os percursos de uma cidade não tem muito que se lhe diga. Perder-se, no entanto, numa cidade, tal como é possível acontecer num bosque, requer instrução” (*)