A sociedade da abundância em que supostamente vivemos, caracteriza-se entre outras coisas pelo excesso de produção, o que levanta questões com tanto de insólito quanto de contraditório, como seja o incessante crescimento da pobreza.
Mas na nossa sociedade evoluída e civilizada, não é só a pobreza que cresce. O lixo é outro dos flagelos que o “desenvolvimento” transporta consigo. Se estendermos à ideia genérica de lixo, todo o desperdício que é gerado pelo consumo, teremos um retrato muito mais fiel deste modelo de sociedade.
Nos nossos dias, o lixo e o desperdício, tendem a crescer de forma exponencial e descontrolada, de acordo com o modelo de desenvolvimento ocidental e concorrencial, ao qual as preocupações ambientais – ideia recente e sujeita também ela às oscilações da moda e às leis de mercado – não conseguem obstar de forma decisiva e consequente.
Estudos divulgados em 2009 que se reportam ao ano de 2007, apontam que cada europeu produziu nesse ano e em média 522Kg de lixo. O português, um pouco abaixo, produziu “apenas” 472Kg. De todo o lixo produzido, apenas 22% foi reciclado permanecendo o restante em lixeiras e aterros. Grande parte deste lixo, não é bio-degradável, sendo uma elevada percentagem dele constituído por plásticos. Estes dados referem-se apenas aos países da União Europeia, sobre o resto do mundo pouco se sabe.
Esporadicamente têm surgido na imprensa, em recônditos artigos e micro-crónicas consentâneos com a importância do assunto, referências acerca da existência de uma imensa “ilha de plástico” que algumas fontes garantem ter uma dimensão duas vezes superior à dos Estados Unidos. A dita “ilha” constituída por 100 milhões de toneladas de plástico não bio-degradável, não para de crescer. Esta imensidão de plástico flutuante situa-se no Oceano Pacífico entre o Japão e o Havai e mantém-se aí por força dos ventos e correntes marítimas dominantes. O “monstro” é conhecido desde 1997, mas até agora nada foi feito para inverter a aterradora tendência aumentativa da “criatura”.
Esta aglomeração de resíduos terá sido originada em 1/5 pelas repetidas descargas de navios e de plataformas petrolíferas, vindo a restante percentagem do continente. A “Sopa de Plástico” como lhe chamam foi já responsável pela morte de mais de um milhão de aves e de cem mil mamíferos marinhos, sem contabilizar as mortes indirectas pela integração do plástico na cadeia alimentar. No entanto, este “fenómeno” permanece esquecido, arrumado e muito pouco conhecido e quase nada comentado. Porquê?
Talvez porque se localize em águas internacionais de difícil acesso e pouco tráfego e principalmente porque o tratamento de tamanha imensidão tem custos e nenhum país estará interessado num investimento dessa envergadura sem quaisquer contrapartidas económicas.
Verdade apregoada e muito pouco escutada – os resultados práticos legitimam este pensar – diz-nos que se o consumo de plástico não for drasticamente reduzido o tamanho da ilha duplicará nos próximos dez anos (esta previsão reporta-se a 2007).
Uma das perguntas aterradoras que circula pela Blogosfera é o que acontecerá ao planeta quando os milhões que constituem a população chinesa por exemplo, se aproximar dos valores de produção de lixo do cidadão europeu ocidental e a todo o plástico de embalagem que todos os dias se produzem e se deitam fora.
Essa pergunta é pertinente, mas uma outra se impõe: Estará a época ficcionada em Wall-E ainda muito distante?
Obs.:
A “Sopa de Plástico” pode ser espreitada em:
http://tube.aeiou.pt/sopa-plastica-o-lixao-do-oceano-pacifico-fantastico-globo/
A “Sopa de Plástico” pode ser acompanhada em: