Foram.
Deixaram o que tinham e partiram.
Iam juntos, mas cada um ia mais na companhia de si próprio.
Que é afinal como se vai, sempre.
Na bagagem, quase nada, tirando um desejo imenso de tudo largar.
Partiram.
Sem instrumentos ou cábulas, sequer mapas.
Com a cabeça vazia de ideias feitas e cheia de desejos por cumprir.
Assim foram.
Em busca de lugar nenhum.
Dos que foram, dos que partiram, pouco sabemos.
Quantos chegaram, ignoramos.
Quantos se perderam ou voltaram, já esquecemos.
Apenas recordamos a vontade indómita de partir.
Apenas nos orgulhamos da memória da viagem, afinal o que importa reter.
Cada um dos que partiu levou na escassa bagagem a ideia de retorno.
Incapazes que foram de ir mais longe, de prosseguir rumando a parte incerta.
A vontade de recomeço estava muito presente.
Muito mais do que a consciência que cada um tinha de si.
Afinal o que importava preservar.
Por vezes e contrafeitos, recordamos aqueles que partiram, que se foram.
Por vezes evocamos aqueles que teimaram em ficar, onde a terra e o mar se confundem. Ausentes; sem noção de tempo ou lugar.
Por vezes, ingratos que somos, embrulhamos em brumas todos os que lá foram deixados.
Por vezes – quase sempre – fazemos de conta que nada se passou.
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* Este título, que também o foi de uma série de quimigramas,, foi surripiado a Louis-Ferdinand Céline, um grande escritor e um grandessíssimo filho da mãe.