A propósito da exposição “Artist Line – Linhas de Ruptura” a inaugurar em breve no novel espaço do colectivo cultural “Bacalhoeiro”, situado precisamente na Rua dos Bacalhoeiros em Lisboa, voltei a pensar em como a nossa vida, é toda ela atravessada por uma complicada teia de linhas...
A própria definição de linha é por si só uma complicação.
Numa das mais recentes edições do “Dicionário da Língua Portuguesa” da Porto Editora, encontrei: Linha é (entre muitas outras coisas) “um traço contínuo de espessura variável”, podendo ser também “figura geométrica gerada por um ponto que se desloca no espaço”; “traço real ou fictício que marca a separação entre duas zonas distintas”; etc., etc, etc. No final de todas as definições possíveis – e são muitas – encontra-se esta frase lapidar: “Cada um sabe as linhas com que se cose” que é como quem diz, cada um sabe da sua vida.
Confesso que não sei as linhas com me coso, mas isso não vem ao assunto e como tal, regresso à primeira definição: “Linha é um traço contínuo de espessura variável”.
Esta definição, concreta, precisa e concisa, levou-me a procurar no mesmo dicionário a definição de traço: “Segmento curto de uma linha, risco, impressão, sinal, vestígio”.
Tendo a nítida sensação de que comecei a ser arrastado pela maré, sem terra à vista, pus de parte todos os considerandos sobre os vários sentidos possíveis, os latos, os estritos, e todos os outros e fui procurar o significado de risco: “Linha, traço...” Afinal, os maiores receios foram infundados. Não andei assim tanto à deriva como inicialmente pensei. Parece-me mais que andei em círculos, com um regresso assegurado ao ponto de partida, ou seja, a linha.
Sobre linhas, algumas linhas, já escrevi anteriormente. Outras houve que não cheguei a referir como sejam as linhas de conduta, ou a Linha Azul que no Metropolitano de Lisboa liga a Baixa-Chiado à Amadora, ou a Linha Verde na Cisjordânia que delimita os territórios ocupados por Israel, ou a evocada Linha Vermelha quando se bate no fundo... ou ainda as linhas do futuro lidas na palma da mão (!?!), isto para só referir algumas que me surgiram assim de repente...
Mas, como as linhas podem ser traços, lembrei-me também do “jogo da corda” e do traço que era feito no chão, separando as duas equipas contendoras, puxando cada uma o mais que podia, tentando levar a outra a atravessar o dito traço.
Mas, como os traços também podem ser riscos, lembro-me do meu pai a admoestar-me: “Já estás a pisar o risco...” que é como quem diz, que existem linhas, traços, riscos, que não devem ser sequer pisados, quanto mais ultrapassados – tipo traço contínuo – já se vê...
São afinal limites que não devem ser ultrapassados, aos quais só é permitida, com mal disfarçada indulgência, a transgressão às crianças, aos insanos e... aos artistas!
(Ps: “Limite – Linha que estrema superfícies contíguas...” in Dicionário citado)