É certo que gosto de uns e outros mas esta associação é no mínimo insólita, desde que não estejamos a falar de estórias infantis ou outras que não o sendo, sejam pelo menos suficientemente fantásticas para permitirem uma convivência pacífica entre uns e outros.
Tanto assim é que em alguns nichos sociais ainda persiste o salazarento anátema de que “um burro carregado de livros é um doutor”, o qual tanto evidencia um ancestral desprezo por uns como um ódio visceral por outros.
Falando por mim, devo dizer que gosto de burros e dentre estes, da agora tão mediática raça mirandesa que já existia – menos mediática é certo – antes de Toscano a ter “imortalizado” em tomadas de vista "originalíssimas"...
Gosto também de livros, daqueles objectos constituídos por páginas impressas e capas identitárias que antes se adquiriam em livrarias e agora pululam por todo o lado em que exista um hipermercado ou uma grande e despersonalizada cadeia do grande consumo a que se dá o pomposo nome de mega-store.
Tudo isto se passa num país onde provavelmente a maioria dos seus habitantes nunca viu na vida um burro ao vivo e onde se vendem livros que as pessoas não lêem e onde de vez em quando se arregimentam algumas boas – e notáveis – vontades para incrementar um plano nacional de leitura (em que parte das notáveis boas vontades integrantes nem sequer acredita!?!) com a estrita finalidade de levar o cidadão comum a ler.
Aqui chegado, pesem embora as opiniões contrárias, sou levado a pensar que, provavelmente a batalha está perdida e que a ideia romântica da “Livraria” já foi e a da leitura também... no entanto, algumas bolsas de resistência autorizam um optimismo moderado. Se não neste país, pelo menos noutras latitudes.
Vem esta retórica a propósito de um artigo do insuspeito “Washington Post” traduzido na “Pública” alguns meses atrás, o qual contava a saga dos designados Biblioburros.
Este fantástico empreendimento é fruto do empenho de Luís Soriano, que todos os fins-de-semana, acompanhado de dois burros carregados de livros, percorrem montes e vales do norte da Colômbia, a fim de permitir o acesso à leitura, de populações de aldeias recônditas, situadas em locais que, sómente pessoas a pé ou... de burro conseguem atingir.
Esta acção, para além de louvável é um empreendimento, no mínimo, notável.
Curiosamente, esta verdadeira biblioteca itinerante só tem duas regras a cumprir pelos seus utilizadores: Lavar as mãos antes de pegar nos livros e não escrever nas páginas!
Trata-se realmente de um serviço público – genuíno e gratuito – de alguém que tomou a seu cargo aquilo que instituições com muitos meios, recursos e não menos responsabilidades não fazem.
Mas não é só. Parte dos habitantes dessas aldeias, crianças e adultos, não sabem ler e é também luís Soriano quem procura preencher esse vazio ensinando-os!!!
Tarefa gigantesca esta, que continua, à revelia de optimismos e pessimismo – o meu incluído – indiferente aos índices e estatísticas acerca de níveis de leitura e índices de alfabetização, iliteracia e outros...
Como não ficar sensibilizado?
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