"Faço-lhe notar que um ser humano que não sonha é como um corpo que não transpira: armazena uma porção de toxinas"
Truman Capote

3.01.2007

"Império dos Sentidos"

Este título, que é nome de restaurante - galeria, remete por inteiro para o que designa uma das obras de mestre Oshima. Essa mesma obra, porque cinematográfica é um produto primeiramente visual mas que o áudio não é alheio quer pelos ruídos produzidos pela acção dos personagens, como também pela banda sonora que acompanha toda a película. Claro que isto só por si é uma apreciação um tanto redutora dado que, pelo observado e entrevisto os restantes sentidos estão lá por inteiro…

Mas não é este “Império dos Sentidos”, pese embora a sua importância e o prazer que me daria dissertar sobre ele, que me motiva a escrita. É outro o “Império” que agora me faz dissertar, não menos “dos Sentidos” que o anterior, até porque, aludindo à actividade que no local se pratica os sentidos são para aí convocados de forma igualmente intensa, não obstante serem outros os propósitos da convocatória. Olfacto e paladar sendo os primeiros a marcar presença não obstam a que o sentido da visão seja alvo de solicitações diversas, quer através da forma ornamentada como os pratos são apresentados, quer pelas “obras” expostas e dispostas pelas paredes e recantos das duas salas.

Se por aqui já andam o paladar e o olfacto como no filme andavam primordialmente a visão e a audição, o sentido em falta, num caso como no outro está muito mais presente do que aquilo que uma reflexão mais ligeira possa levar a crer, isto de forma implícita, muito mais do que explícita. Falo evidentemente do tacto, daquele cuja falta provoca por vezes enormes equívocos…

Esta exposição, constituída por dez “quadros” com desenhos e dez “quadros” em suporte fotográfico é em termos de representação não mais do que um repositório de gestos contidos.

Gestos implícitos por vezes, que nada querem dizer para além daquilo que o olhar de cada um lhes venha a acrescentar em observação atenta ou distraída, cúmplice ou fugidia. Não há muito mais a acrescentar. O que haveria para dizer, está dito (ou foi escrito).

Nada a esconder portanto…
Talvez que a excepção seja a descrição de tudo o que se oculta sob o eufemismo da “técnica mista”… a tal coisa que pode ser “quase tudo” quando não mesmo “quase nada”, à semelhança das imagens expostas.

A tal “técnica mista”, mais não é pois do que os sais de prata dos papeis fotográficos, diversos cartões e cartolinas, fitas adesivas, papeis e cartões de embalagem, cola, celulóide, esquiço, tinta da china e esmalte sintético industrial, numa verdadeira orgia de texturas no que ao sentido do tacto explicitamente respeita…

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