"Faço-lhe notar que um ser humano que não sonha é como um corpo que não transpira: armazena uma porção de toxinas"
Truman Capote

3.30.2009

“A origem de tudo…”


Na origem de mais uma provincial polémica esteve a reprodução de uma tela de Gustave Courbet pintada, imagine-se em 1866.

A dita tela teve desde o princípio uma existência atribulada. Foi pintada por encomenda do embaixador turco em França (à época, obviamente). O referido embaixador coleccionava quadros onde a lascívia era presença obrigatória. O quadro de Courbet era parte da colecção e encontrava-se oculto por outra tela e só era mostrado e um círculo íntimo e em ocasiões especiais. Depois do tal embaixador, andou por outras mãos, numa existência que se pautava pela semi-clandestinidade até chegar – por aquisição - à posse do psicanalista Jacques Lacan e por morte deste, doado ao estado francês podendo agora ser visto, sem impedimentos nem constrangimentos no Museu D’Orsay.

“A origem do mundo” tem mais de cem anos de existência e apenas um decénio de exibição pública…


Eis senão quando, aparece exposto – na via pública – em Braga, na capa de um livro, numa feira de saldos. Tanto bastou para que surgisse a controvérsia… almas mais impolutas e puritanas alardearam bem alto o seu incómodo por tão despudorada exposição. Chamada a polícia – zelosa e cumpridora – lá foram os livros apreendidos e a reprodução d”A origem do mundo” arrecadada.
O conteúdo do livro nunca esteve em causa. A razão de ser da celeuma era apenas a capa.
Edificante!

Um pouco atabalhoadamente chegaram as explicações oficiais… os livros foram apreendidos porque se temia uma alteração da ordem pública por parte dos incomodados e ofendidos por tão ignominiosa mostra daquilo que só no recato deve estar… Esta ridícula situação e a caricata atitude despoletada por uma capa de livro, são afinal fruto e produto do mesmo provincianismo que anos antes fizera sair à rua as famigeradas “mães de Bragança” em tonitruante invectivação contra “as brasileiras” dos bares de alterne que lhes desviavam os maridos, sabe-se lá com que artes demoníacas que serão certamente aparentadas com as artes de Courbet…


3.21.2009

"Oh, Lisboa, meu lar"

Inaugurou no passado dia 18 a exposição de pintura e desenho “Oh, Lisboa, meu lar”.
A dita exposição vai permanecer no Edifício Central do Município (ao Campo Grande) até 31 de Março.
Constituída por 17 telas e 4 desenhos, documenta uma possível deriva pelo bonito centro histórico da mais bonita cidade do mundo – a Baixa-Chiado – indubitavelmente o lugar da memória e de referência no universo tangível e literário de Fernando Pessoa.


Como pensar Lisboa sem pensar em Pessoa?

Homenagear Lisboa e homenagear Pessoa…

Eis a presunção que animou todo o construir e montar desta exposição.
À data da inauguração, poderia ter dito que passavam 120 anos, 9 meses, 5 dias, 1 hora e 40 minutos sobre o nascimento do poeta, na fora os anos bissextos baralharem todas estas contas… Por tal razão, não o disse como não realizei nenhuma comemoração especial nos “exactos” 120 anos do seu oficial nascimento. Também se pode adiantar, que por essa altura difícil era encontrar instituição que não o tivesse feito… Contrariando a tendência para comemorar datas “redondas”, esta comemoração aqui fica.