O paradoxo do instante não é o de acabar quando surge. Esse
dever o impomos nós ao “banal” instante”, talhado na peça
imaginariamente substancial do Tempo. O paradoxo do instante
é o de nunca ter principiado e não ter fim.
(…)
Eduardo Lourenço
Ao fazer minhas estas imagens num processo gradual de apropriação, procuro ater-me ao pressuposto definidor do momento fotográfico, o qual passa por ser o registo de um lapso de tempo que, terá sido precedido de um “antes” e terá forçosamente originado um “depois”.
Sobre estas imagens, só sei aquilo que vejo e a minha imaginação me permita conjecturar. Pura especulação portanto. Desconhecedor das condições em que foram obtidas, das motivações do(s) seu(s) autor(es), atraem-me sobretudo pelas suas potencialidades plásticas e surpreendem-me pelo desconhecimento da sua razão de ser… atracção essa que encontra eco no dizer de Barthes, “uma fotografia torna-se ‘surpreendente’, a partir do momento em que não se sabe porque foi tirada”.
Se numa imagem produzida por mim, posso ter a veleidade (se a memória não me atraiçoar) de ser conhecedor desse precedente “antes” e do consequente “depois”, tal não sucede no caso destas imagens.
Numa posição de autor acidental, mas também de espectador ocasional, a minha situação é idêntica à de qualquer observador: só detenho este instante. O resto posso sempre tentar inventar, compor um “antes” e um “depois” nos quais este “durante” possa participar.
As histórias…fica ao cuidado de cada um tentar contá-las.