"Faço-lhe notar que um ser humano que não sonha é como um corpo que não transpira: armazena uma porção de toxinas"
Truman Capote

11.06.2011

Às voltas com os livros...

Gosto de pensar que os livros, as capas e os títulos devem ter uma relação muito próxima.

Dá-me satisfação que um livro de que goste muito, tenha uma capa que se lhe adeqúe, que de algum modo espelhe (ou que pelo menos tenha algum tipo de correspondência com) o seu conteúdo e que o título, mais explícito ou subjectivo, também com ele se relacione.

Quando isto não acontece, a plenitude não foi atingida e algo se perdeu.

Geralmente compram-se os livros pelos assuntos/tema, pelos autores, por alguma sugestão ou informação obtida.

Já comprei livros pelas capas, outras vezes pelos títulos ao abrigo do pensamento que uma capa tão magnífica ou um título tão sugestivo não podem envolver um mau livro. Quando a tal relação de proximidade não se estabelece, espanto-me com o resultado e sinto-me invariavelmente enganado (sem razão admito), mas não consigo deixar de considerar isto a modos que fraudulento.

Existe um provérbio inglês: “Don’t judge the book by the cover” que diz tudo. Mas no que diz respeito aos livros – como também às pessoas – não fazemos outra coisa…

Mas como diz Umberto Eco: “Nenhum verdadeiro patife se assemelha a um patife” e está tudo dito.

Um livro que reli recentemente “A angústia do guarda-redes antes do penalty” de Peter Handke, teve quanto sei duas capas em edição portuguesa e qualquer uma delas é bem pior do que a outra!

Mas não é caso exclusivo do nosso país. Uma curta “investigação” permitiu perceber que a maioria das capas estrangeiras, não é muito melhor.

Nada disto inviabiliza que continue a considerar o livro interessante e o título magnífico, mas fica a faltar qualquer coisa…

10.22.2011

Hoje

Inauguração dia 22 de Outubro às 17h30

ARTISTAS de Set - Dez 2011

Ana Nabais

Pintura

Ana Neves Guerreiro

Pintura

Carlos Carvalho

Pintura / Fotografia

Catarina Sobral

Ilustração

Diogo deCalle

Desenho/ilustração

Jorge Reis

Livro de Autor

Karolyn Morovati

Pintura

Pedro Aires

Pintura

Raquel M. Rodrigues

Pintura

Rui Tavares

Pintura

Susana Chasse

Pintura

10.17.2011

uns olham, outros esperam; alguns caminham

Sentados algures, apoiados nas paredes ou recolhidos nos umbrais, observamos atentamente os que vão, os que vêm e também os que apenas estão, que pensam seguramente noutra coisa enquanto nós pensamos neles.

Cruzamos olhares, interessamo-nos. Algumas vezes – muito raramente – acercamo-nos, ingressamos na multidão e encetamos um passeio sem desígnio, discretamente, para melhor observar: fazemos parte, mas não nos misturamos.

Evitando ser notados, seguimos uns e esquecemos outros, ignorando os seus objectivos e propósitos – sequer se os têm – como aliás ignoramos tudo o resto. Nada do que fazem, dos gestos que esboçam, da direcção que tomam, nos deixa perceber as suas motivações. Contudo, atribuímos-lhes uma história, construímos-lhes vidas

Entre os que olham e os que esperam, alguns caminham. Dirigem-se a que lugar, vindos de onde? E os que esperam? Esperam o quê ou a quem? E os que olham? Olham para onde, olham para quem? Assim desafiados, seguimos os que caminham, esperamos com os que esperam, perscrutamos os que olham, sem que em momento algum saibamos para onde vão, o que esperam ou o que observam.

Apesar disso, temos prazer em vê-los sem que dêem por nós, sem que nos vejam.

10.09.2011

Os meus livros | 3

Tenho dúvidas que os livros que julgamos que nos pertencem sejam efectivamente nossos.

Sem pretender abordar a questão da posse em geral, questão demasiado vasta e complexa para ser tratada de forma ligeira e despreocupada.

Fico-me pelos livros, cuja posse, como outras, é uma questão transitória e o mais das vezes também ilusória. Os livros, salvo descuidos, acidentes ou destruições deliberadas, sobrevivem aos seus proprietários. Ou seja, tomamos conta deles – bem ou mal – até que sejam “passados” a outros.

Não fora assim e os alfarrabistas não existiriam!

Frequento alfarrabistas desde que me lembro. Gosto de adquirir livros com “história”, viajados, manuseados, vividos. Livros que já pertenceram a alguém, que estiveram noutros lugares e que agora, provisoriamente, estão comigo. Qualquer dia, vão-se como se foram muitos outros. Emprestados, esquecidos, desviados, andarão por aí.

Já me desapareceram (e reapareceram) livros. Também me desfiz de alguns, como também houve quem me desfizesse de uns quantos…

Não faço disso um acontecimento, como nunca fiz listas de empréstimos. Confio.

Vem tudo isto a propósito de uma aquisição recente (em alfarrabista, claro) de um livro que tinha no frontispício o ex-libris que acima se reproduz.

Um ex-libris, como se sabe, atesta que tal livro é pertença de quem lhe apôs o dito. Prova de propriedade ou elemento dissuasor, este é tão ou mais interessante por trazer consigo um aforismo cuja eficácia desconheço, mas reconheço ao seu autor, um enorme sentido de posse e também de refinado humor.

9.27.2011

Os meus livros | 2


Como já aqui foi dito, pôr os livros em ordem é um trabalho que me fascina, não obstante tal tarefa ter por vezes o seu quê de delirante.

Vem isto a propósito dos “meus” livros se movimentarem para além do que é comum e razoável, desaparecendo por vezes, escondendo-se, volatilizando-se por assim dizer, para reaparecerem de forma inopinada, sem aviso prévio e invariavelmente quando já desisti de os procurar, por considerar não ser possível encontrá-los. Daí que, não raras vezes suceda também, existirem por aqui aos pares… porque um desapareceu e a dado momento faz falta, e porque assim é, compra-se outro e… depois do assunto resolvido, surge ufano o procurado, num lugar improvável ou pelo contrário tão óbvio e evidente que o torna invisível.

Também acontece que ao serem emprestados – e isso é muito frequente – se recusem a regressar. Porquê? Por serem melhor tratados, de forma mais carinhosa ou porventura adoptados, acontecendo que por ficam – onde quer que isso seja – presumo que bem entregues, seguramente em boas mãos, e mais criteriosamente arrumados.

Chego a pensar que tal atitude será causada por não lhes dar a devida atenção, beliscando-lhes o ego, ou por não lhes arranjar melhor acomodamento do que o chão!?!

Que estejam bem, é o que me ocorre pensar. Se um dia lhes aprouver regressar, serão bem recebidos. Sem ressentimento ou ódios de estimação que são coisas que não alimento.

9.17.2011

Os meus livros | 1


Arrumar livros é uma festa, um drama, um fascínio, um horror, uma delícia, um tormento…

Ordenar livros de uma “quase” biblioteca tem que se lhe diga. Também por isso, mas não só, digo “quase” biblioteca porque não sei quantos livros são necessários para se constituir uma.

Se nos ativermos ao que Borges, Eco ou Manguel referem quando falam de bibliotecas, o meu “raquítico” montículo de livros dificilmente poderá ser classificado como tal.

Que designação atribuir então ao agregado de livros que possuo, disseminados por estantes, mas também por outras peças de mobiliário menos adequadas à situação, nomeadamente o chão, que não sendo uma peça de mobiliário, não raras vezes cumpre a função? Seja lá como for, com ou sem nomeação apropriada, necessito que o meu conglomerado de livros seja arrumado, ordenado e que acima de tudo seja considerado um método que obste à confusão que ciclicamente se vê instalada.

Os meus livros, têm por vezes comportamentos bizarros… como que animados de vida própria, entram num processo auto-gestionário e agrupam-se, organizam-se entre si, mostram-se ou escondem-se conforme os humores que os possuem, daí por vezes tê-los aos pares!?!

Sobre este assunto, ainda voltarei a falar.

Tenho sempre enormes hesitações no momento de os arrumar. Conheço quem os arrume de uma forma com tanto de tecnocrática quanto de eficaz. Reconheço as virtudes do sistema, mas não sou capaz. A ordem alfabética não me satisfaz.

Então por géneros… não sei, mas ainda assim…, romance, poesia, ensaio, filosofia e por aí. Mas existe uma enorme porosidade nestas fronteiras ao ponto de comprometer a eficácia da distinção, acabando eu por retornar sempre a primitiva distribuição, a qual não é sistemática, sequer eficaz, num misto de organização disciplinar e proximidade afectiva que é afinal aquela que mais me cativa, pese embora o facto de a curto prazo gerar uma balbúrdia tremenda.

Tal “método”, não tem nada de científico, não é sequer prático e muito menos eficiente, mas é aquele que afinal me deixa contente!