"Faço-lhe notar que um ser humano que não sonha é como um corpo que não transpira: armazena uma porção de toxinas"
Truman Capote

5.26.2008

Café e Cigarros – part 1

Este título de que me apropriei, remete para o filme de Jarmush, Coffee and Cigarettes, sem dúvida um excelente pretexto.

Outro excelente pretexto poderia ter sido o filme Smoke de Wayne Wang e Paul Auster. Mas não foi precisamente devido à ausência do café…

Devo dizer antes do mais, que sou um apreciador do Café preto e do Chá branco. E que sou também (não por opção mas por inevitabilidade) fumador passivo. Fumo passivamente qualquer marca. Nesse particular não estabeleço critérios. Quanto ao chá e ao café, já não é bem assim. Se no chá sou mais tolerante, no que ao café respeita sou absolutamente radical. Duas marcas apenas, merecem os meus créditos. Em desespero posso fazer mais uma – apenas uma – concessão, não mais!

Antes de prosseguir, devo deixar dito também que discordo em absoluto de proibições descabidas e de diabolizações irreflectidas.

Li algures, não sei onde nem me lembro sequer da autoria, que aquilo que nos dá prazer é pecado, engorda, faz mal (à saúde depreende-se) ou é proibido. Se não é proibido, é pelo menos socialmente mal visto. Café e cigarros, em níveis diferentes, estão nesta situação. Para muita gente o café faz mal. À saúde em geral e aos nervos em particular. E todos sabemos que é característica dos portugueses terem estômagos de aço e nervos sensíveis.


Começando pelas diabolizações irreflectidas, abordemos o café, tema menos controverso, julgo eu…

É comum rejeitar-se uma coisa porque alguém diz que faz mal. A maioria das vezes, ninguém se questiona acerca da veracidade da “coisa”. Alguém que junto de nós tem crédito afirma e nós acreditamos. De um modo geral, instalou-se a ideia que o café faz mal… A quê? Porquê? Não se sabe exactamente… parece que tira o sono, deixa as pessoas nervosas… mas será só o café que provoca estas reacções?

São raras as pessoas que dizem não beber café por não apreciarem. Apreciam, mas não bebem e não bebem porque faz mal!

É vulgar combinarmos com alguém “vamos tomar um café” e vemos esse alguém a tomar outra coisa qualquer que a maioria das vezes contém nos seus constituintes substancias tanto ou mais duvidosas do que aquelas que entram na constituição do café como bebida.

Invariavelmente me surpreendo com situações destas, mas isto são coisas do foro íntimo de cada um. As pessoas devem ter liberdade de escolha e como tal, cada um deve beber o que quiser ou lhe der prazer.

Conta-se que Balzac bebia mais de 50 cafés por dia e que terá morrido por excesso de cafeína. Apraz-me pensar que o café foi contributo importante para a concretização da “Comédia Humana” esse gigantesco e notável empreendimento. Se o foi, que melhor homenagem o café poderia ter?

Diz-se também que o café tira o sono… A mim não tira, de todo. O que me tira o sono e também do sério é a cretinice, a impostura, o oportunismo… Diz-se que desequilibra os nervos… A mim não desequilibra, de todo. O que me desequilibra os nervos é a mediocridade, a mesquinhez e a estupidez.

Não seria de admirar que um dia destes viessem a público estudos fiáveis e credíveis sobre inúmeras doenças originadas pelo consumo de café. Basta para isso que alguma luminária oriunda das Américas se lembre – a troco da mediatização exacerbada que todos estes estudos merecem – de investigar o assunto e amplificar os resultados. Até lá, “tomai e bebei…”, antes que seja proibido.


Agora os cigarros. Quanto a isto, estou perfeitamente à vontade para me pronunciar, na medida em que não sou nem nunca fui fumador activo. Estou também suficientemente esclarecido sobre o assunto para saber que o tabaco faz mal à saúde e que toda a gente está informada sobre o assunto.

É claro que ninguém ficará indiferente perante os números, esmagadores, das mortes causadas directa ou indirectamente pelo consumo de tabaco. Dados recolhidos no jornal “Público” de 17 de Abril de 2006 – devem estar hoje desactualizados – indicam que:

8400 pessoas morreram em Portugal devido a doenças ligadas ao tabaco, no ano 2000 (estimativa da OMS).

5 milhões de pessoas morrem actualmente em todo o mundo, segundo a OMS, e se nada for feito, em 2030 morrerão cerca de 10 milhões.

4500 substâncias químicas com efeitos tóxicos mutagénicos e cancerígenos é o que contém o fumo do tabaco.

90 por cento da mortalidade por cancro do pulmão, cerca de 30 por cento das mortes por qualquer tipo de cancro e cerca de 50 por cento de mortalidade cardiovascular são as percentagens estimadas de mortes por causa do consumo do tabaco.

Não pondo em causa a veracidade destes números, nem o panorama aterrador que eles revelam, seria interessante saber também os números – em milhões de euros – que entram nos cofres do estado, originados precisamente pelos lucros da Tabaqueira.

Volto a dizê-lo, são números preocupantes.

Mas digo também que com todos os avisos e campanhas e também com a amplificação que estas cruzadas sempre têm não deve haver ninguém com dúvidas. O tabaco faz mal!

Mas existem outras coisas que fazem mal, nomeadamente os corantes e conservantes. Os pesticidas e outros produtos químicos que entram na cadeia alimentar por caminhos ínvios também. Isto, para só referir o ramo alimentar. Os gases de escape também fazem mal, seja à saúde das pessoas seja à saúde do planeta. E daí? Não só não se restringe a circulação automóvel como se incentiva… Não é verdade que Lisboa está saturada de carros? Para quê a construção de uma nova ponte? Para quê mais parques de estacionamento? Quem já ouviu falar do protocolo de Quioto e dos atropelos de que foi vítima pelos que o ratificaram? Quem quer saber disto?

O tabaco mata?

A estupidez também, e ninguém parece preocupar-se…

Sobre o conteúdo da lei do tabaco, não vale a pena adiantar mais nada. Já foi amplamente comentada, contestada, apoiada… vale a pena sim, reflectir sobre a sua aplicação e também se esta é um caso isolado.

No meu entender, a “coisa” podia ser simplificada. Os proprietários dos estabelecimentos decidem se no seu interior se pode ou não fumar. Dístico na porta e bem visível. O cliente escolhe, faz no momento a opção por sua conta e risco. Ou entra, ou não entra.

Locais de diversão nocturna, livres de fumo? Parece-me bem… Locais de diversão nocturna, repletos de fumo? Parece-me bem também. O “Catacumbas” sem fumo? O “Hot Club” sem fumo? Coisa estranha…

A hipocrisia já existia antes desta nova lei, a estupidez acentua-se com ela. Mas, mais grave que isso, são todos os exemplos a que podemos deitar a mão, em como as tendências proibicionistas alastram, como fogo em mato seco. E mais, traz à superfície a veia de censor e de guardião da moral e dos bons costumes que cada um possui, com tudo o que isso tem de perigoso.

Acerca de proibições descabidas, assiste-se já à perseguição e ostracização dos trabalhadores fumadores ou, mais grave ainda. O facto de se ser fumador assinalado, é factor de exclusão em concursos para obtenção de emprego… Quem se arrepiou e clamou quando nalguns casos vindos a público se ficou a saber que os portadores de HIV se viram nessa situação, que dizer dos fumadores?

O que motiva este escrito, para além do declarado pretexto inicial, não são os malefícios do tabaco nem os benefícios das leis proibicionistas. O que me motiva e preocupa, antes de mais é o que pode vir a seguir.

Será que a Europa ao marchar a reboque destas ideias aberrantes e medidas discriminatórias, vulgares e desprovidas de imaginação, importadas directamente da América mais provinciana, retrógrada, pacóvia e delirante, vai ficar por aqui?

Não creio.

Nestas coisas como noutras, existe sempre a tentação de se ser “mais papista que o papa” e de não se querer ficar atrás.

5.13.2008

Maio de 68


Muito embora não seja muito dado a celebrações, não posso ficar indiferente a esta data.
Não me refiro à data das “aparições”, refiro-me à data de um outro tipo de aparição, aquela que tentou levar a imaginação ao poder. Não tendo saído vitoriosa na totalidade dos fins a que se propôs (propôs mesmo?) e as propostas eram tantas, a revolta de 68 teve a virtude de fazer reformular teorias, atitudes, comportamentos e, imagine-se, até políticas… como de costume, os ecos aqui, chegaram tarde, mas a verdade é que chegaram e tiveram os seus efeitos mais visiveis na crise académica do ano seguinte. A partir daí, nada seria como dantes.

Das coisas mais interessantes que na altura se produziram, contam-se as palavras de ordem, algumas delas verdadeiramente delirantes:

Tenho alguma coisa a dizer mas não sei o quê”.

Por esta altura surgiram inúmeros cartazes e pichagens que veiculavam este universo de explosiva e criativa espontaneidade. Questiono-me como as coisas se teriam passado se já existissem telemóveis e sms’s, se já houvesse Internet e com ela blogs e Youtubes e também graffiteiros como os de agora, que se encarregam de “refazer” com rasgos de criatividade os muros decrépitos e degradados das cidades, como o Maio de 68 fez com a ordem estabelecida…

5.09.2008

Exposição na EDP



Desenho & Fotografia


A utilização de uma câmara fotográfica, tal como a utilização de um lápis para desenhar, constituem meios através dos quais se transmitem sentimentos, sensações, pensamentos…
Na sua essência ambos os processos imprimem marcas num suporte e apresentam uma proposta visual que pode ter tanto de informativa como de expressiva.
Muito embora possa parecer que nada têm a ver um com o outro, desenho e fotografia têm mais em comum do que aquilo que à primeira vista pode parecer.
Desenho e fotografia são meios de representação e com ambos se fazem enquadramentos, com ambos se realizam composições. Para além do mais, subsiste o dado incontornável de ambos os meios produzirem imagens.



5.04.2008

Desacordo

Não se trata de ser do contra só por ser…
Não se trata de uma postura intelectualizada em que ser do contra faz parte de uma certa pose…
Não se trata de ser do contra por achar que a língua não deve evoluir…
Trata-se de ser contra por uma questão de princípio e respeito por um património que é nosso, que faz parte da nossa identidade como nação e como tal não deve ser descaracterizado, mas antes preservado.
É portanto um estar contra fundamentado em princípios, dúvidas e receios pelo que possa daqui advir.
E o que daí advirá será seguramente uma descaracterização da língua, “imposta” por razões espúrias e interesses não assumidos.
(percentagem das alterações)
Mesmo para o observador mais desatento não pode passar despercebido o facilitismo que tem imperado ao nível do ensino da nossa língua.
Se tal facilitismo já se vinha “desenhando”, tudo ficou mais claramente definido com os governos Guterres. O rumo ficou aí definido e até hoje não se inverteu. Passou-se definitivamente a trabalhar para as estatísticas.
Claro que se já se havia detectado o alastrar da iliteracia e a expansão do analfabetismo funcional. Só que obstar a essa situação não passa pelo aligeirar do ensino da língua, nem pela uniformização desta com a fala e a escrita de outras latitudes, como também não passa por retirar os clássicos das aprendizagens e substituído estes por matéria televisiva, de maior facilidade e inevitável visibilidade. Passa sim pelo incremento de hábitos de leitura “facilitando” assim o contacto com a língua-mãe e de, por exemplo, tomar a sério um Plano Nacional de Leitura do qual raramente se ouve falar.
É também muito estranho que os governantes que se deslumbram com os sucessos obtidos por países estrangeiros nos vários domínios da sociedade, que os visitam em busca de inspiração e matéria de estudo, não se tenham questionado acerca do porquê de, por exemplo os países que usam o castelhano não se tenham envolvido num acordo deste género. Ou também o caso ainda mais flagrante de ingleses e americanos conviverem com uma língua comum repleta de diferenças na grafia e na fonética.
Mas, voltando ao português escrito e falado, a quem é que interessa o acordo ortográfico?
Talvez que os grandes mercados editoriais e os grandes grupos económicos neles envolvidos não sejam de todo alheios a esta problemática.
Esclareça-nos quem souber, quiser, puder ou conseguir.
Mas já agora e porque é matéria da ordem do dia, ficam aqui algumas sugestões que facilitariam sem dúvida a vida a muito boa gente:
Que não se retirem só alguns Ps e Cs, os acentos circunflexos e maiúsculas…
Retirem-se todos! E já agora os Hs que não se lêem. Todos, inclusive os do verbo haver…
E também se acabe com os Ss a valer de Z e com os dois SS a fazerem a função do C com cedilha ou não!
E tudo o mais que uma imaginação desenfreada possa sugerire que seja ÚTIL alterar para FACILITAR a vida às pessoas. Se é para facilitar a compreensão e a comunicação, haveria que ir mais longe, radicalmente mais longe.
Porque a timidez de 1,6% de alteração? E porque tanto trabalho e alarido para atingir 1,6%? Já que se vai mexer…
Ficando pelas meias tintas, parece mesmo que é para fazer a vontade a algumas entidades que de forma não muito clara se escudam em argumentos tecnicistas que pouco ou nada esclarecem ou antes pelo contrário… são bastante reveladores
Aqui chegados, a alguém interessa a raiz e a origem onde as palavras se formaram?
Não será que tudo isto tem mais a ver com números do que com letras?