"Faço-lhe notar que um ser humano que não sonha é como um corpo que não transpira: armazena uma porção de toxinas"
Truman Capote

5.04.2008

Desacordo

Não se trata de ser do contra só por ser…
Não se trata de uma postura intelectualizada em que ser do contra faz parte de uma certa pose…
Não se trata de ser do contra por achar que a língua não deve evoluir…
Trata-se de ser contra por uma questão de princípio e respeito por um património que é nosso, que faz parte da nossa identidade como nação e como tal não deve ser descaracterizado, mas antes preservado.
É portanto um estar contra fundamentado em princípios, dúvidas e receios pelo que possa daqui advir.
E o que daí advirá será seguramente uma descaracterização da língua, “imposta” por razões espúrias e interesses não assumidos.
(percentagem das alterações)
Mesmo para o observador mais desatento não pode passar despercebido o facilitismo que tem imperado ao nível do ensino da nossa língua.
Se tal facilitismo já se vinha “desenhando”, tudo ficou mais claramente definido com os governos Guterres. O rumo ficou aí definido e até hoje não se inverteu. Passou-se definitivamente a trabalhar para as estatísticas.
Claro que se já se havia detectado o alastrar da iliteracia e a expansão do analfabetismo funcional. Só que obstar a essa situação não passa pelo aligeirar do ensino da língua, nem pela uniformização desta com a fala e a escrita de outras latitudes, como também não passa por retirar os clássicos das aprendizagens e substituído estes por matéria televisiva, de maior facilidade e inevitável visibilidade. Passa sim pelo incremento de hábitos de leitura “facilitando” assim o contacto com a língua-mãe e de, por exemplo, tomar a sério um Plano Nacional de Leitura do qual raramente se ouve falar.
É também muito estranho que os governantes que se deslumbram com os sucessos obtidos por países estrangeiros nos vários domínios da sociedade, que os visitam em busca de inspiração e matéria de estudo, não se tenham questionado acerca do porquê de, por exemplo os países que usam o castelhano não se tenham envolvido num acordo deste género. Ou também o caso ainda mais flagrante de ingleses e americanos conviverem com uma língua comum repleta de diferenças na grafia e na fonética.
Mas, voltando ao português escrito e falado, a quem é que interessa o acordo ortográfico?
Talvez que os grandes mercados editoriais e os grandes grupos económicos neles envolvidos não sejam de todo alheios a esta problemática.
Esclareça-nos quem souber, quiser, puder ou conseguir.
Mas já agora e porque é matéria da ordem do dia, ficam aqui algumas sugestões que facilitariam sem dúvida a vida a muito boa gente:
Que não se retirem só alguns Ps e Cs, os acentos circunflexos e maiúsculas…
Retirem-se todos! E já agora os Hs que não se lêem. Todos, inclusive os do verbo haver…
E também se acabe com os Ss a valer de Z e com os dois SS a fazerem a função do C com cedilha ou não!
E tudo o mais que uma imaginação desenfreada possa sugerire que seja ÚTIL alterar para FACILITAR a vida às pessoas. Se é para facilitar a compreensão e a comunicação, haveria que ir mais longe, radicalmente mais longe.
Porque a timidez de 1,6% de alteração? E porque tanto trabalho e alarido para atingir 1,6%? Já que se vai mexer…
Ficando pelas meias tintas, parece mesmo que é para fazer a vontade a algumas entidades que de forma não muito clara se escudam em argumentos tecnicistas que pouco ou nada esclarecem ou antes pelo contrário… são bastante reveladores
Aqui chegados, a alguém interessa a raiz e a origem onde as palavras se formaram?
Não será que tudo isto tem mais a ver com números do que com letras?