"Faço-lhe notar que um ser humano que não sonha é como um corpo que não transpira: armazena uma porção de toxinas"
Truman Capote

11.26.2008

Triste sina

Há mal intencionados que dizem que uma nação que começa com um filho a bater numa mãe não tem hipóteses…

Apesar de todo o pessimismo que nos é inerente, creio que ainda não batemos no fundo… Agrada-me pensar que a salvação do futuro colectivo passa por outras gerações que não esta que actualmente detém o poder.

Existem grupos de cidadãos conscientes e activos, vigilantes e actuantes que se preocupam com assuntos que deixam as maiorias indiferentes ou pelo menos preocupadamente distantes.
São na maioria jovens, mas não só, militantes e ruidosos e, considerando o espectro populacional em geral, constituem uma imensa minoria.
Por vezes são uma destas coisas, vegetarianos, contra a globalização, contra as causas do efeito de estufa, contra os transgénicos, a favor do bem-estar das minorias e dos direitos dos animais… Outras vezes, são tudo isto e muito mais, o que quer dizer, resumindo, que proclamam o dever de lutar por uma sociedade mais justa, num ambiente equilibrado e sustentável.

A biodiversidade é uma questão essencial e actual à escala planetária. Isso só por si, não nos deve inibir de ter uma postura actuante naquilo que nos for acessível e com os meios de que dispusermos. Cada vez que uma espécie se extingue é um pedaço do património comum que se vai.
De uma maneira geral, quem se dá ao trabalho de reflectir sobre o mundo actual, dificilmente negará a acuidade destas questões, pelo que é de considerar o dever de cada um fazer, o quanto estiver ao seu alcance, para tentar salvar cada espécie ameaçada.
Devemos preocupar-nos sem dúvida com o Lince da Malcata e com os Golfinhos do Sado.
Obviamente que sim, mas… e a vergonha?
Ninguém se preocupa com o desaparecimento da vergonha?
Vão continuar a proliferar as nefastas campanhas de aniquilamento sistemático da espécie, perante a inércia generalizada?

Exemplos de impunidade não faltam: Podemos começar pela triste brisa que é (ou foi?) a Operação Furacão, podemos referenciar a absolvição de Fátima Felgueiras ou as várias entidades reguladoras que não regulam coisa nenhuma ou regulam apenas algumas, como também os vários casos judiciais que nunca mais têm fim à vista como o Apito Dourado (ou será enferrujado?) ou o nauseante tema Casa Pia. Na ordem do dia está agora o caso BPN mas seguramente por pouco tempo já que ninguém acredita na operacionalidade de uma instituição a que se dá a eufemística designação de justiça.

Assim como se constituem as mais diversas associações de luta pelos mais elementares direitos, não seria demais esperar o surgimento de uma Associação de Cidadãos Envergonhados para contrabalançar as enormes carências sentidas neste sector.

Apela-se pois, aos jovens activos e militantes de causas nobres, já que nos menos jovens grassa o desalento e o desencanto e não sobram energias para tanto, que se envergonhem genuína e sinceramente pelo que neste país acontece!

11.07.2008

Viva!


A poeira assentou.
Já posso festejar.
Renasceu a esperança; Obama ganhou.
Pelo menos, que lhe seja concedido o benefício da dúvida.

Um presidente que pensa, pode fazer a diferença...

11.02.2008

K7

“Todo o mundo é composto de mudança”. Assim foi, assim é, assim será. Luiz Vaz sabia-o e cantou-o.
A nós, menos dotados da presciência dos iluminados resta-nos aceitar como certa esta pequena certeza, contra todas as incertezas que nos cercam.

Magro consolo, diga-se.

Ironicamente, da Economia à Política, do Ambiente às Ciências, a mudança é a única constante num universo alargado de variáveis.
Todos os dias surgem dados novos sobre o desaparecimento de alguma espécie, acentuando a “via dolorosa” da biodiversidade.
Se no mundo global as coisas se passam assim, num rodopio frenético de transformações, o mundo da arte não fica imune a isso, encontrando-se por vezes no papel (incompreendido) de proclamador de algumas dessas mudanças, acabando também ele por sentir as repercussões das oscilações e transformações que se vão registando.

O evento aqui reportado, não se refere propriamente à extinção de uma forma de vida, animal ou vegetal. Refere-se apenas a uma forma de escutar o mundo e de registar os seus sons que se extingue.
A cassete morreu!

Sem sombra de saudosismo, recuso aqui desfiar o rosário das vicissitudes e virtualidades, em que uma conversa acerca de um meio de registo de som que foi fonte de prazer de gerações poderia degenerar…

A morte declarada da cassete é apenas a morte anunciada do CD e a morte a prazo do MP3 e por aí fora.
A fotografia digital vai aniquilando aos poucos a fotografia analógica, como o VHS fez ao sistema Betamax e como o DVD está a fazer aos outros suportes de registo de som e imagem. Os argumentos imbatíveis da interactividade, da qualidade, dos preços e da portabilidade assim o determinam.
Não importa muito saber quem liquidou o quê. Talvez interesse reter apenas que vivemos num mundo a prazo em que diariamente se confirma uma das máximas de Darwin: “Não é a espécie mais forte que sobrevive, mas aquela que melhor se adapta ao meio”.
A cassete estava desadaptada…

A cassete áudio foi inventada em 1963 e chegou ao mercado em 1965. Fez as delícias dos melómanos pela versatilidade e possibilidades que abriu no domínio das compilações caseiras. Quando se implantou, a cassete relegou as fitas magnéticas em bobina para o nicho dos profissionais de som.
Os anos 80, foram anos de apogeu para a cassete com o surgimento dos “walkman” e não havia festa, romaria ou feira onde não pontificassem as bancas de venda de cassetes pirata.

A cassete morreu, paz à sua alma!

Com ela, morre também uma atitude ou postura (se quisermos) perante a música e o universo dos sons. É também uma certa cultura que se vai. Thurston Moore (Sonic Youth) faz parte de alguns dos focos de resistência ao desaparecimento da cassete, tendo publicado recentemente o manifesto “Mix Tape: The Art of Cassete Culture).
Não obstante as resistências, 2010 é a data limite para um “prazo de validade” que vai expirando, pese embora o fenómeno de popularidade de que a cassete ainda desfruta em países como a Índia, onde anualmente se vendem 80 milhões de cassetes gravadas e que tem sido, em grande parte responsável, pela longevidade deste suporte
O artífice sonoro (também fotógrafo) Aki Onda continua a criar e a registar sons quotidianos, bandas sonoras de eventos artísticos e fundos musicais, entre outras criações, a partir de gravações em cassete, que vai reproduzindo – também nas performances que executa – em decks que vai manipulando e sequenciando.

Remando contra a maré, dirão alguns.
Snob desadaptado, dirão outros.
Inconformado, talvez, arrisco eu…

A “espreitar” de ouvidos bem abertos em http://akionda.net.