O prazer do texto é o momento em que o meu corpo vai seguir as suas próprias ideias – pois o meu corpo não tem as mesmas ideias que eu.
Roland Barthes
Ainda a decorrer no CAM, a exposição de João Penalva justamente intitulada “Trabalhos com Texto e Imagem” suscita um conjunto de reflexões a propósito precisamente da relação entre texto e imagem (linguagens distintas e distintivas) no domínio das artes plásticas.
Se por um lado a poesia visual e os artistas que a ela se dedicaram – Salette Tavares, Ana Hatherly, Ernesto Melo e Castro, entre outros – criaram um universo de significâncias e representações em que a forte expressividade dos caracteres tipográficos ou dos signos por eles criados se constituem como o fundamento das obras criadas, num outro plano e envolvimento plástico do texto com a imagem, as letras, as palavras, as frases, enquanto meio e mensagem, apologética ou contestatária, irónica e corrosiva por vezes ou “apenas” cínica e incisiva, marca forte presença na obra de artistas como Barbara Kruger, Jenny Holzer e Shirin Neshat
ou nos trabalhos conceptuais de Joseph Kosuth, Lawrence Weiner e Bruce Nauman.
No domínio pictórico, João Vieira e António Sena construíram um singular percurso trabalhando de uma forma muito particular o cruzamento entre texto e imagem, visão e linguagem, quer nos alfabetos gestuais por parte de Vieira, quer nas inscrições e rasuras de Sena, surgindo a obra de ambos contaminada pela matéria poética contida na gestualidade, como parte do acto de pintar.
Mais recentemente, explorando outros meios e sobre outros suportes, os trabalhos de Rita Sobral Campos ou Pedro Diniz Reis procedem ao mesmo tipo de questionamento, reivindicando as raízes da “tradição” plástica do conceptualismo, quando esta se ocupa de texto e imagem, em simbiose efectiva ou aparente ou no território não menos inseguro das atitudes paradoxais.
Porque umas coisas levam a outras, e retomando a exposição de João Penalva, está subjacente a todo o percurso expositivo, a relação muito particular que o autor desenvolveu entre texto e imagem, entre os objectos que povoam a sua obra e as linguagens empregues na sua consumação, seja no que diz respeito às representações, seja nas narrativas a que procede acerca de lugares, coisas e situações. Tais narrativas – como as imagens – são tudo menos ilustrativas ou sequer descritivas, ao ponto de ser possível considerar que, umas e outras apesar de agregadas, poderiam perfeitamente ter existências separadas.
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