"Faço-lhe notar que um ser humano que não sonha é como um corpo que não transpira: armazena uma porção de toxinas"
Truman Capote

9.01.2008

Mas afinal...

Fui recentemente interpelado sobre o que me leva a escrever num blog.

Posteriormente a questão estendeu-se às razões que levam as pessoas a escrever em blogs.

Os termos em que a interpelação se deu e o tom empregue, pressupunha alguma depreciação por parte de quem assim me questionava e a discussão não proliferou, em parte também, porque a hostilidade evidenciada perante cada tentativa de resposta não permitia grandes reflexões.

Agora, com alguma tranquilidade voltei a pensar no assunto e em busca de respostas, resolvi vir para aqui reflectir “em voz alta”…

Digamos que esta “actividade” tem para algumas pessoas uma carga negativa. Referem-se a ela como uma perca de tempo ou, se não perca, pelo menos gasto de tempo com uma ocupação fútil, um propósito inútil.

As razões e motivações dos outros não me interessam por aí além, salvo em casos muito pontuais. Não me interessou, não me preocupou, não indaguei as razões alheias. No entanto, reconheço que alguns blogs, dos muitos que por aí proliferam, possam propiciar apreciações pouco abonatórias, quer pelas matérias tratadas quer pelos maus tratos infligidos à língua portuguesa. Mas, num universo tão vasto, nem tudo é assim.

Existem blogs de todos os géneros e a propósito de tudo. Para uns serão como instrumentos de trabalho como para outros serão espaços de lazer. Existem blogs, sérios e bem concebidas onde matérias bastante interessantes são trazidas a público de uma forma rápida e acessível. Se este meio não existisse, tais assuntos dificilmente poderiam ser dados a conhecer por falta de meios. Mas, quem quer denegrir este universo “comunicacional” socorre-se bastas vezes de um nicho muito peculiar de blogs que são os diários pessoais, alguns absolutamente boçais, a maioria dispensável. Estes blogs servirão – ao que se diz - essencialmente para alimentar egos carenciados ou descompensados. Mas, se os seus autores estão no seu legítimo direito de se exporem e manifestarem, também qualquer pessoa tem a prerrogativa de os ignorar.

A existência de blogs, a sua manutenção e defesa, não são para mim uma causa.
Posto isto, que fique claro que só falo por mim e como tal, para a questão “Mas afinal, o que leva as pessoas a escrever em blogs”, não tenho resposta.

Voltando ao meu caso – o directamente interpelado -, porque tenho eu um blog?

Este blog, nasceu com o propósito de se constituir como um diário (também ele!?!).
Continha na sua génese a intenção de se fazer eco da minha actividade no campo das artes plásticas, sendo também um suporte para registos de opinião sobre assuntos do meu interesse ou de outros que simplesmente suscitassem a minha natural curiosidade.
Isto, creio eu, responde por mim e evidencia as minhas motivações.

Claro que se pode sempre questionar a quem interessa as minhas opiniões, como também, a quem interessa o meu trabalho.

Sobre isto, não tenho dúvidas: A mim em primeiro lugar. Quem pinta, desenha ou escreve, fá-lo em primeiro lugar para si próprio. Depois, bem mais atrás, vêm os outros…

É evidente que deste ponto de vista, este blog será sempre inútil, senão mesmo fútil.
Obviamente que de um ponto de vista meramente utilitário, este blog deverá ter uma eficácia próxima do nulo absoluto. Quero eu dizer que o número dos que me lêem não ultrapassa certamente um dígito. Deste modo, nem sequer consigo ser muito interventivo e sequer prejudicial.

Aquilo que aqui se passa anda então próximo do monólogo...
Os monólogos como os diálogos são feitos de palavras. Este blog, em última análise regista a minha relação com as palavras.

Não sou um homem de palavra – sou incoerente, farto-me de voltar atrás com o que afirmei, deixo promessas por cumprir – mas sou um homem de palavras e a minha relação com elas é tão tempestuosa como uma paixão.

Porque tropeço amiudadas vezes nas palavras e porque ao tropeçar por vezes caío, por descuido ou por elas empurrado. Porque também inúmeras vezes são elas que me estendem a mão e me ajudam a erguer. Porque são elas a mão que castiga e também a mão que afaga, por tudo isso, eu não me zango com elas, decepciono-me comigo.

Ainda assim, eu gosto de palavras. Muitas vezes acontece não gostar do que elas nomeiam. Todavia continuo a gostar das palavras, afinal, elas tal como nós, não são perfeitas.
Eu não sou perfeito, longe disso. As minhas palavras também não e o meu blog espelha isso mesmo.

(…)
O direito e o prazer narcísico do individuo que se exprime para nada, para si apenas, mas veiculado e amplificado por um medium. Comunicar, exprimir-se sem outro objectivo além do de se exprimir e ser registado por um micropúblico
(…)
Se tudo o que aqui foi dito, quis dizer nada, faço minhas as palavras de Lipovetsky.