"Faço-lhe notar que um ser humano que não sonha é como um corpo que não transpira: armazena uma porção de toxinas"
Truman Capote

3.14.2007

Televisão

Soube pelos jornais que a RTP comemorou por estes dias, 50 anos de existência.
Parece-me um facto incontornável e uma data histórica à qual ninguém pode ou deve ficar alheio.
Se Bill Watterson* evidencia nesta tira (já antiga) a notável sageza que se lhe reconhece, naquela que poderia ser uma homenagem às televisões e por isso lhe devemos a nossa gratidão, de igual modo devemos estar gratos à RTP pelo exemplar trabalho, intrepidamente desenvolvido ao longo de 50 anos, na modelação das consciências nacionais.

*(agradecimentos ao autor e ao jornal Público)

3.08.2007

weblogs & cogumelos

É um facto (o que será um facto?) com muitos números.

Cada vez existem mais e não é possível exterminá-los!

A “coisa” já atingiu uma tal dimensão e consequente importância que alguns órgãos de comunicação em suporte, digamos, convencional não só não os conseguem ignorar como até os referem, citam, aludem, destacam, transcrevem… em suma, dão-lhes uma visibilidade acrescida que de outro modo não teriam.

Por outro lado, opinion makers existem que não passam sem eles, seja para opinarem como lhes compete ou polemizarem quando lhes apetece.

Depois… bem, depois existem os outros. Aqueles que, pelas mais variadas razões não têm, não querem ter, mas também não sentem raiva de quem tem… Dentre estes, destacam-se alguns, que não os tendo, comportam-se em relação a eles de uma forma muito peculiar ignorando-os, quando são já incontornáveis.

Penso que isto acontece por variadíssimas e legítimas razões, sendo para mim a mais curiosa, aquela que vem de gente capaz de citar o mais obscuro opúsculo editado em Moimenta da Beira como se fora de uma importância transcendente para o panorama cultural do país, proclamando em simultâneo do alto das suas cátedras que “blogs, simplesmente não leio”.

Muito provavelmente o tal opúsculo a existir (sem desprimor para os agentes culturais do local – foi apenas um exemplo) foi enviado para o Sr. Dr. com todas as regras de etiqueta que mandam as normas sejam usadas quando existem Drs no assunto, sendo inegável que os tais Drs sentem o ego afagado quando são alvo destas atenções.

Todavia, tal atitude não abona nada a favor dos ditos, até porque, as razões que subsistem para a ostracização dos blogs não são difíceis de encontrar. Os tais Srs, quais oráculos predisseram rapidamente a efemeridade e o modismo do fenómeno e não se quiseram “misturar”. Quando finalmente perceberam que o fenómeno viera para ficar, era demasiado tarde… Só valia a pena se tivessem sido os primeiros… não sendo assim, está declarada a menoridade cultural do meio, pese embora como foi dito, a sua utilização por alguns dos seus pares.

De tão óbvio, ninguém contradiz que blogs existem que não justificam a sua razão de existir. Mas o contrário também é verdadeiro.
Para concluir, deixo por aqui espalhados alguns dados estatísticos provenientes da insuspeita “Technorati” onde são referidos que o número de blogs existentes em todo o mundo ultrapassa os 50 milhões e que todos os dias continuam a ser criados em média cerca de 175.000 novos.

Nem Ahmadinejad (quem diria) resistiu a esta “febre”.

E quem mais?

3.01.2007

"Império dos Sentidos"

Este título, que é nome de restaurante - galeria, remete por inteiro para o que designa uma das obras de mestre Oshima. Essa mesma obra, porque cinematográfica é um produto primeiramente visual mas que o áudio não é alheio quer pelos ruídos produzidos pela acção dos personagens, como também pela banda sonora que acompanha toda a película. Claro que isto só por si é uma apreciação um tanto redutora dado que, pelo observado e entrevisto os restantes sentidos estão lá por inteiro…

Mas não é este “Império dos Sentidos”, pese embora a sua importância e o prazer que me daria dissertar sobre ele, que me motiva a escrita. É outro o “Império” que agora me faz dissertar, não menos “dos Sentidos” que o anterior, até porque, aludindo à actividade que no local se pratica os sentidos são para aí convocados de forma igualmente intensa, não obstante serem outros os propósitos da convocatória. Olfacto e paladar sendo os primeiros a marcar presença não obstam a que o sentido da visão seja alvo de solicitações diversas, quer através da forma ornamentada como os pratos são apresentados, quer pelas “obras” expostas e dispostas pelas paredes e recantos das duas salas.

Se por aqui já andam o paladar e o olfacto como no filme andavam primordialmente a visão e a audição, o sentido em falta, num caso como no outro está muito mais presente do que aquilo que uma reflexão mais ligeira possa levar a crer, isto de forma implícita, muito mais do que explícita. Falo evidentemente do tacto, daquele cuja falta provoca por vezes enormes equívocos…

Esta exposição, constituída por dez “quadros” com desenhos e dez “quadros” em suporte fotográfico é em termos de representação não mais do que um repositório de gestos contidos.

Gestos implícitos por vezes, que nada querem dizer para além daquilo que o olhar de cada um lhes venha a acrescentar em observação atenta ou distraída, cúmplice ou fugidia. Não há muito mais a acrescentar. O que haveria para dizer, está dito (ou foi escrito).

Nada a esconder portanto…
Talvez que a excepção seja a descrição de tudo o que se oculta sob o eufemismo da “técnica mista”… a tal coisa que pode ser “quase tudo” quando não mesmo “quase nada”, à semelhança das imagens expostas.

A tal “técnica mista”, mais não é pois do que os sais de prata dos papeis fotográficos, diversos cartões e cartolinas, fitas adesivas, papeis e cartões de embalagem, cola, celulóide, esquiço, tinta da china e esmalte sintético industrial, numa verdadeira orgia de texturas no que ao sentido do tacto explicitamente respeita…

2.25.2007

Do delirante e do imponderável

Muito se tem falado ultimamente da China a propósito das mais diversas questões, quer tenham estas a ver com o comércio, a poluição, o consumo energético e até, porque não dizê-lo, as eloquentes declarações do ministro Manuel Pinho.

O imparável crescimento deste gigantesco país, por entre toda a sorte de desmandos, tem feito acender sinais de alarme em todo o mundo ocidental.

Tendo por horizonte mais próximo a miragem de promissores acordos comerciais, a questão dos “direitos humanos” foi remetida para o recanto menos iluminado do salão onde se discutem as questões essenciais no que diz respeito às chamadas parcerias estratégicas ou oportunidades de negócios entre a China e o Ocidente.

Não fora uma nova e ostensiva incursão do governo chinês neste domínio – o do “direitos humanos” – e tudo navegaria num mar de calmaria, tão longe já vai a “Primavera de Pequim”.

De facto, nas últimas semanas, a China tem sido notícia precisamente porque novas e inquietantes medidas têm vindo a ser tomadas no que às liberdades individuais diz respeito.
A título de exemplo, refira-se a recente edição, por parte do município de Pequim de 1,5 milhões de exemplares (eu repito: um vírgula cinco milhões) de um livro intitulado “Manual Geral de Civilidade e Boas Maneiras”, no qual e ao longo do seu reduzido número de páginas – são só 112 !?! – se trata de uma forma muito peculiar, tudo aquilo que se possa imaginar acerca do que os seus autores conseguiram apurar, sabe-se lá com que critérios, sobre os comportamentos humanos e regras de etiqueta da Europa e da Ásia.
Este precioso livro, tem como propósito declarado lavar (sentido lato e sentido estrito) a imagem da China moderna, aproveitando a montra que é de facto a realização dos Jogos Olímpicos de 2008.

Os desígnios por detrás de tão famigerada edição estão declaradamente explícitos, o que não é dito mas está sem dúvida implícito é uma nova ofensiva contra os mais elementares direitos dos cidadãos, já evidenciada através de medidas avulsas. O município pequinês já andava às voltas há algum tempo com o problema da erradicação de alguns dos salutares hábito que os habitantes da cidade (e pelo menos de grande parte do resto do país ao que sabe) tão carinhosamente cultiva.

Senão vejamos: Os chineses têm vindo a ser exortados no sentido de deixarem de cuspir para o chão e de deitarem o lixo para a rua !!!
Ao que parece, a persuasão não tem sido suficiente e entrou-se assim em velocidade de cruzeiro no domínio da mais inclassificável coacção com a aplicação de multas de 5 euros para quem seja apanhado a praticar tais actos.

Só um país bárbaro e desrespeitador dos mais elementares direitos, pode de tal forma proceder. Felizmente que vivemos em democracia, num estado de direito e num país moderno e civilizado onde tais actos não se praticam e consequentemente, tais medidas de modo algum se justificam.
São de facto hábitos estranhos – a que nós portugueses somos de todo alheios – mas que, em nome da biodiversidade devemos respeitar.

Mas, infelizmente para os chineses, a ofensiva governamental não se ficou por aqui.
Passo pois a citar alguns excertos da mais sublime prosa.
“Ao ir à casa de banho, não se esqueça de puxar o autoclismo e depois lavar as mãos…”

Mas… onde já se viu!

Aquando de um cumprimento “apertar a mão de outra pessoa de forma ligeira e deixar que o aperto dure cerca de três segundos”.

O pior ainda está para vir. É que para além da desumana imposição destas estranhas normas de conduta, cerceadoras das liberdades de cada um, existem outras bem mais delirantes.

“…os habitantes de Pequim devem andar de cabeça levantada, com o torso direito e os ombros relaxados. Os braços devem mover-se naturalmente para a frente e para trás e os pés devem pisar o chão de forma ligeira mas estável”.

Para além de expressar um enorme sentimento de revolta, aquilo que se me oferece dizer é que seria de extrema utilidade acompanhar esta extraordinária edição, com uma grandiosa exposição com as esculturas de Giacometti e os mobiles de Calder.

É que, talvez vendo algumas das obras destes autores os chineses pudessem aprender alguma coisa com esta matéria, que é já toda ela do domínio do delírio e da imponderabilidade.

O que haverá para ver de mais delirante e imponderável do que as peças de um e outro?

2.01.2007

Exposto em Fevereiro

Vai estar presente de 5 de Fevereiro a 5 de Março no “Império dos Sentidos”, Restaurante-Galeria situado na Rua da Atalaia (Bairro Alto) uma nova mostra da série “Não te preocupes, são apenas sonhos povoados de gestos…”, série parcialmente exposta no final de 2006 na "Galeria IF".

Desta feita será exposta a totalidade da série, sendo mostradas conjuntamente as fotografias e intervenções com os desenhos (storyboard) que lhe estiveram na origem.