"Faço-lhe notar que um ser humano que não sonha é como um corpo que não transpira: armazena uma porção de toxinas"
Truman Capote

4.10.2009

Afinidades Electivas

Decorreu no passado fim-de-semana a inauguração de uma exposição em que a fotografia marcou presença.

Afinidade (electivas), título “aproveitado” de um livro homónimo de J. W. Goethe[1], faz também seu, o conceito subjacente à referida obra: “A expressão “afinidades electivas”, em química designa um processo no qual os elementos presentes, de acordo com o grau das suas afinidades podem estabelecer ou desfazer ligações nos compostos tradicionais e encetar um processo de escolha “livre” de novas combinações. Este colectivo improvisado que aqui se expõe, estabeleceu-se também ele a partir da livre combinação de sensibilidades. Em fotografia ou a partir dela, se constitui o conjunto de trabalhos apresentados, que reflectem um olhar não só individualizado mas também filtrado pela forma como cada um se posiciona no campo da arte”[2].
Do material exposto pela Alice, o Mourato ou a Emília, dá conta a notícia publicada pela Rádio Elvas no seu site: http://www.radioelvas.com/album682.html

Os trabalhos que ali exponho, são de natureza diferente e integram duas séries que têm vindo a ser desenvolvidas desde 2007:

Um museu imaginário
Série, que se foi edificando a partir do postulado por André Malraux no seu livro “Museu Imaginário” - onde o título se inspira -, sem perder de vista a “boîte en valise” (o museu transportável) de Duchamp. Entre similaridade e diferenciação se foram aglutinando imagens e objectos eminentemente fotográficos que estimulam memórias e convocam referências propiciando efabulações de tendência museológica.

Histórias por contar
Série que foi sendo construída a partir de negativos isolados que, por estranhas motivações me escolheram como fiel depositário. A preocupação em salvaguardar identidades que desconheço, privacidades que respeito e percursos de vida que ignoro, não inibiu o interesse pela matéria plástica das imagens e a coreografia que as mesmas proporcionam, conduzindo a uma apropriação intervencionada, na qual se procurou deixar marcas de autoria. As histórias, essas ficam ao critério de cada um contá-las…



[1] “As afinidades electivas” obras escolhidas de Goethe, vol. 4, Relógio d’Água Editores, Lisboa 1999
[2] da “brochura” publicada