"Faço-lhe notar que um ser humano que não sonha é como um corpo que não transpira: armazena uma porção de toxinas"
Truman Capote

6.06.2009

M de metade

São quatro da madrugada, de mais uma noite de insónia, e dou comigo a pensar que metade da noite de sono de uma pessoa normal já se foi… associo ideias, entrelaço palavras em alternativa ao exercício de decifração dos vários ruídos que a noite produz e a escuridão amplifica.
As palavras vão-se cruzando, associando, em alegre devaneio.
A ideia de metade, associada à noite é perfeitamente inofensiva… associada às palavras é completamente destrutiva.

Detesto meias-palavras, meias-tintas!
Acho nojento o facto sugerido, a carta sem remetente, o telefonema anónimo, o gesto não conclusivo.
Não suporto a expressão conspirativa “cala-te boca…” de quem sugere saber muito mais do que aquilo que diz… expressão assassina tendente a trucidar pela insinuação aquilo que carece de fundamentação… “sabe muito bem do que estou a falar”…
Quem faz isto, pode sempre recuar, dizer que não disse ou afirmar que foi mal interpretado, mas a dúvida já se instalou.
É precisamente esse o problema.
Dar a entender, sugerir, subentender… “Para bom entendedor”…


… e eu que não sou bom entendedor, antes pelo contrário. Quero ouvir tudo, do princípio até ao fim. Meias-palavras não me bastam. Para o melhor e para o pior, quero as palavras todas! Inteiras, completas
Que raio de coisa genética esta de não se assumirem…
Responsabilizem-se de forma completa e efectiva pelo que querem dizer, sem possibilidade de recuo.
Não é por acaso que se proclama que “é no meio que está a virtude”.
Qual virtude? A do vómito feito de meias-verdades, meias-palavras, proferidas num insidioso sussurro?
Estas metades, não são economia de meios, são a repugnante argamassa que consolida a relação entre emissor e receptor. O que diz e o que acolhe, entendendo-se neste terreno pantanoso das metades, que não é rejeitado, combatido, ostracizado, mas antes enaltecido e louvado.

Prefiro que não me digam nada.

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