"Faço-lhe notar que um ser humano que não sonha é como um corpo que não transpira: armazena uma porção de toxinas"
Truman Capote

2.21.2010

O necessário e o supérfluo

A Trilogia do Lixo - 2



Nas sociedades desenvolvidas, o chamado crescimento económico, anda de braço dado com a produção. Quanto mais rico e desenvolvido for o país, mais elevado é o consumo per-capita. Esse indicador que atesta o desenvolvimento do país e a riqueza deste e por extensão, dos seus cidadãos, não diferencia o necessário do supérfluo.

Em tempos de crise, o consumo retrai-se, os orçamentos encolhem-se, os gastos diminuem. Nessas alturas, racionalizam-se um pouco as compras, diminuindo a aquisição de bens supérfluos em prol dos necessários à subsistência.

Nessas situações, dependendo da duração e profundidade da crise, as empresas diminuem a produção, despedem trabalhadores, encerram as portas.
As bolsas entram em colapso, a economia em depressão, os países em estagnação, as pessoas em aflição.

As crises não são eternas e as depressões, estagnações e aflições, também não.

A seguir a uma crise económica, segue-se um período de euforia e prosperidade, até que nova crise sobrevenha e o ciclo se repita.

Ninguém aprendeu nada, nem tirou lições para o futuro. A produção de bens de consumo volta subir, o consumo desses bens dispara para níveis elevados. O crescimento e o consumo voltam a crescer e toda a gente fica feliz e contente.

O homem é o único animal que consome para além do necessário. Se este problema – porque efectivamente se trata de um problema – não é de agora, nunca como nos dias de hoje existiu a tendência para confundir tanto consumo com felicidade.

Nestas alturas ainda mais do que em outras o consumo do desnecessário dispara à custa de necessidades inventadas e de produtos criados à sombra dessa invenção. Objectos ainda capazes de ser utilizados e de cumprir a função para que foram criados, são substituídos por outros mais capazes ainda, portadores de muitas outras funções que provavelmente nunca iremos utilizar, mas que nos dá satisfação possuir.

Os “obsoletos” vão inexoravelmente para o lixo, seja ele reciclável ou não, atulhando o planeta de toda a sorte de detritos, com as consequências ambientais que ostensiva e deliberadamente ignoramos, porque temos a doentia propensão para só atender ao imediato, desleixando o saudável hábito da prevenção.

Nesta como noutras questões, atribuímos as responsabilidades a governos e instituições, sem querer saber que as responsabilidades individuais também contam e as atitudes pessoais também importam.

Aparentemente o pior desta crise já passou. Os celebrados indicadores parecem apontar para uma nova era de crescimento e consumo, que o mesmo é dizer, novos produtos, novos objectos capazes de nos tirarem o sono até que os possamos adquirir e, claro está, de um aumento de objectos deitados no lixo, aumentando a área desmesurada que este já ocupa na terra, no mar e no ar.

Que se lixe o lixo, vamos celebrar… venha mais felicidade!

No comments: