"Faço-lhe notar que um ser humano que não sonha é como um corpo que não transpira: armazena uma porção de toxinas"
Truman Capote

4.03.2006

Rothko

Chegar a Rothko através de um outro…


De facto, assim foi. Não fora eu um apaixonado pela obra de Mark Rothko, provavelmente este (outro) Rothko passar-me-ia ao lado.

Tudo começou num disco: Distant Sound of Summer escutado em dia de implacável invernia. Assinavam esse disco Susumo Yokota – considerado actualmente como um dos mestres da música ambiental – e… Rothko.

Esta dupla já tinha registado antes uma outra colaboração, Waters Edge no formato EP, também ela bastante interessante. Independentemente do apreço que tenha (e tenho!) pela obra do japonês (para além de músico, artista plástico), o que realmente motiva este escrito é Rothko – o projecto musical - e desse, eu sabia… nada.

Havia pois que investigar.

Esta “coisa” da investigação, leva-nos sempre muito para além do objectivo inicial que nos propusemos… Neste caso, ainda bem, porque me deparei com uma obra singular e a todos os títulos notável: Blues: The Dark Paintings of Mark Rothko da autoria de Guitar Roberts – pseudónimo utilizado por Loren Mazzacane Connors.

Não tendo a pretensão nem a veleidade de fazer um levantamento exaustivo das obras musicais que se compuseram inspiradas ou influenciadas na/pela pintura de Mark Rothko e deixando de lado a música erudita, penso que este último disco seja referência obrigatória.
E tão mais obrigatória, quanto as afinidades são imediatamente detectáveis. Toda a carga dramática que a fase derradeira e instável da vida e obra de Rothko (o pintor) está contida nestes sons que a exacerbam e projectam numa emotividade de serena exaustão causada pelas atribuladas e trágicas vivências que até aí o conduziram.

Mark Rothkovich nasceu em Dezembro de 1903 na Rússia. Aquele que viria a ser considerado um dos maiores pintores americanos de sempre, só chegou ao território americano (Portland) com dez anos. Viria a ser em Nova Iorque que o jovem Rothkovich se converteria no Rothko que hoje se conhece.

As vicissitudes porque passou desde o anonimato à consagração, não são de todo o objecto deste texto, contudo, faz sentido referenciar a corrente artística que conjuntamente com outros protagonizou: O Expressionismo Abstracto ou Escola de Nova Iorque.

Esta corrente artística, era mais um processo do que um estilo. O objectivo daqueles que a integravam era o de expressar sentimentos através do acto da pintura, para além do produto final em que essa pintura resultasse. Daí que fosse uma corrente artística sem unanimidade visual, na qual conviviam para além de Rothko, nomes como Jackson Pollock, Willem de Kooning ou Barnett Newman.

Enquanto por exemplo a pintura de Kooning ou Pollock é uma pintura de acção (Action Painting), onde o movimento, o gesto, são determinantes, Newman e Rothko, pelo contrário não são pintores de acção. A força emocional que atribuem à cor é preponderante ao ponte de, a ela se referirem como uma “pintura de campo de cor”.

Numa última tentativa de definição, cito as palavras de William Seitz, para quem os artistas que integravam o movimento designado por Expressionismo Abstracto “valorizavam a expressão mais do que a perfeição, a vitalidade mais do que o acabamento, a flutuação mais do que o repouso, o desconhecido mais do que o conhecido, o velado mais do que o claro, o individual mais do que o social e o interior mais do que o exterior”.

Mark Rothko pôs termo à vida no ano de 1970, a 25 de Fevereiro. Para a história fica a delicadeza, mas também a emoção da sua pintura de “campos de cor”.
Creio ser precisamente nestes campos de cor, rectangularmente vagos, cujas margens suaves e nebulosas não só não estabelecem fronteiras, como deixam tudo em aberto, que os músicos se deixaram “contaminar” e estabeleceram um percurso sonoro puramente abstracto, mas absolutamente ancorado à pintura que evocam.
Rothko, o projecto musical, surgiu em Inglaterra na primavera de 97, com uma formação pautada pela invulgaridade: um trio de baixistas. Da sua formação inicial faziam parte Mark Beazly, Crawford Blair e Jon Mead, a que se juntavam esporadicamente outros instrumentistas convidados.


Após a gravação de três álbuns, Mark Beazley desfaz o colectivo em 2001, prosseguindo no entanto com o projecto sob a designação Rothko, tendo com ponto de partida para o reinicio da actividade em disco, as já citadas parecerias com Susumo Yokota. Depois dessas gravações, muitas outras se sucederam, em nome próprio ou em parcerias que envolveram cumplicidades várias como Caroline Ross ou Four Tet.

Vale pois a pena investigar, mas vale sobretudo a pena escutar…

2 comments:

Anonymous said...

Fico a contar que tu me apresente o projecto musical Rothko!

Anonymous said...

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