"Faço-lhe notar que um ser humano que não sonha é como um corpo que não transpira: armazena uma porção de toxinas"
Truman Capote

3.20.2006

Expostos às Imagens

Somos diariamente confrontados, quer em quantidade, quer em velocidade, com sucessões avassaladoras de imagens.

Estas surgem-nos abruptamente em cada esquina, em cada publicação, em cada ecrã, por vezes como se tivessem vida própria e capacidade de, espontaneamente, se reproduzirem.


A sociedade actual vive da imagem e pela imagem. Nunca como agora esta foi tão preponderante a todos os níveis como nos dias de hoje, ao ponto de a sua omnipresença se tornar tão esmagadora quanto indispensável para que o mundo, tal como o conhecemos, continue o seu perpétuo movimento.

Depois de todas as encenações, manipulações e adulterações de factos e acontecimentos levados a cabo à custa de imagens, valeria a pena voltar a discutir a problemática da chamada “realidade” e da sua interpretação/representação.

A cada vez mais fácil reprodutibilidade das imagens, primeiro na publicidade e depois também na arte, retiraram ao conceito de “original” a aura mítica que lhe foi/é inerente instalando-se um estado de banalização e de aceitação passiva desta incessante veiculação. A globalização, a “sociedade da informação”, disso se encarregaram.

Como pensar em originais quando as reproduções circulam em quantidade e velocidade esmagadoras e estonteantes?

A sociedade actual não sobreviveria sem imagens e nós já não podemos passar sem elas.

A fotografia é, na sua essência, o paradigma da reprodutibilidade.

Enquanto o negativo estiver intacto, “aquela” imagem pode ser reproduzida até à exaustão dos meios. Isto, sem se considerar as possibilidades de reprodução e circulação digital…

Como objecto artístico, a fotografia está nos antípodas do “objecto único”.


Perante isto, ao artista só resta se quiser contrariar o pressuposto, intervir sobre a imagem fotografada a fim de deixar nela a marca da sua mão e conferir-lhe o estatuto de irrepetível, pelo menos por aquele processo e daquela forma, o que não deixa de ser contraditório como o meio de expressão escolhido.


Trata-se pois de contrariar os “meios”, tendo em vista o fim.

Afinal faz tudo parte do espectáculo do qual mal ou bem, de forma interventiva ou ingenuamente contemplativa, todos fazemos parte.

(17 de Março de 2005)

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